Estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ontem (23) e hoje (24) dizem que apesar de não terem conseguido se preparar ao longo do ano como gostariam, não acharam a prova muito difícil. Eles relatam também que muitos participantes faltaram e que as salas de aplicação estavam esvaziadas.
“A prova em geral não foi tão difícil quanto eu imaginei, logo para mim, que estudei pouco. Algumas questões de matemática eram bastante simples, mas com textos que confundiam um pouco”, diz o estudante Vinícius Brasil Duarte, 19 anos, que fez a prova em Manaus (AM). Ele pretende usar o Enem para cursar engenharia química.
Na sala de prova de Vinícius, dos 35 candidatos esperados, apenas 10 compareceram. “Creio que tomamos todas as medidas de proteção [por conta da pandemia do novo coronavírus], uso de máscara, álcool em gel, mas mesmo assim, fica um ar de insegurança. Eu particularmente fiquei inseguro”, diz.
Também em Manaus, a estudante Nayandra Barbosa da Silva, 16 anos, conta que se sentiu preocupada por conta da pandemia. “Me senti muito insegura, fiquei muito nervosa, além de que o uso da máscara me incomoda muito”, diz. “Não consegui me preparar como eu queria para o exame. Não tive um ano letivo bom, não consegui ter foco em casa para estudar”, acrescenta. Ela fez a prova como treineira, para testar os conhecimentos.
Terceira aplicação do Enem
Esta é a terceira rodada de aplicação do Enem 2020, após o Enem impresso regular e o Enem digital. Agora, fizeram o exame adultos privados de liberdade e jovens sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade (Enem PPL) e os participantes que estavam inscritos no Enem regular, mas que tiveram sintomas da covid-19 ou outra doença infectocontagiosa ou, ainda, que foram prejudicados por questões logísticas, como falta de luz no dia do exame.
O Enem também foi aplicado hoje, pela primeira vez, em todo o estado do Amazonas, e nos municípios de Espigão D’Oeste e Rolim de Moura, ambos em Rondônia. Nesses locais, o Enem regular, tanto impresso quanto digital, foi cancelado por causa do agravamento da pandemia do novo coronavírus.
A estudante Beatriz Abreu, 17 anos, de Fortaleza (CE) foi uma das candidatas que solicitou a reaplicação porque estou positivo para covid-19 na semana do exame. Em meio a pandemia, ela conta que não conseguiu estudar como gostaria. “Me senti muito despreparada emocionalmente mesmo tendo o privilégio de ter o apoio tanto da minha escola e família. Mas sendo o meu último ano, eu não consegui fazer muitas coisas que tinha planejado. Perdi a motivação e passei basicamente um ano inteiro sem estudar. Então, definitivamente vou adiar mais um ano da minha vida em incertezas”, diz a estudante, que pretende cursar psicologia.
Para a estudante Karen Eduarda Prestes, 18 anos, que mora em Barreirinha (AM), conseguir fazer o exame foi uma vitória. “Eu estou me sentindo muito feliz. A gente estava muito inseguro por não saber o que iria acontecer”, diz. Karen viu o exame ser cancelado não apenas em janeiro, quanto a decisão foi tomada para todo o estado, mas também na última sexta-feira (19), por decreto municipal. Devido ao aumento no número de casos de contaminados, a prefeitura avaliou como arriscado aplicar o exame.
Após diversas tratativas, Barreirinha decidiu manter a aplicação, pois o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que não remarcaria o exame no local. A prefeitura disse que tomou uma série de medidas, por conta própria, para evitar o contágio e que irá acompanhar os estudantes e familiares, monitorando-os e orientando-os a fazer um isolamento por duas semanas.
Karen, que precisou viajar duas horas e meia de barco até o local da prova disse que, no final, achou a prova fácil.
Desigualdades
Na avaliação do educador especialista em Enem, Mateus Prado, este ano o exame evidenciará ainda mais desigualdades que as edições anteriores, uma vez que as aulas tiveram que migrar para o formato online e muitos estudantes foram prejudicados.
“A gente inaugurou agora, com a pandemia, um novo tipo de diferença. Se a gente já tinha diferença entre as classes sociais, agora temos dentro das classes sociais”, diz. “As pessoas estão desalentadas. Ainda no ano passado, desde março, abril, já tínhamos pesquisas que mostravam que os estudantes do ensino médio e superior estavam desistindo de estudar e já se falava em desistências no Enem”.
Segundo ele, os altos índices de abstenção mostram, além do medo em fazer as provas, a falta de preparo dos estudantes e a falta de acesso à educação. No Enem impresso, mais de 50% dos candidatos faltaram às provas. No Enem digital, o índice foi ainda maior, cerca de 70%.
Isso irá, segundo ele, ter reflexos na ocupação das vagas nas universidades, tanto públicas quanto privadas. “Proporcionalmente, você vai ter, tanto em escolas públicas quanto nas escolas privadas, muito menos pessoas que são concluintes [aqueles que estavam matriculados no último ano do ensino médio em 2020] entrando nas vagas do Sisu e do Prouni”, diz.
Gabaritos e resultados
Os gabaritos das provas objetivas estarão disponíveis, segundo o Inep, na próxima segunda-feira (1º) junto com os Cadernos de Questões. Já os resultados do Enem 2020 tanto do impresso, quanto do digital e da reaplicação serão divulgados no dia 29 de março.
As notas do Enem poderão ser usadas para ingressar no ensino superior e para participar de programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Programa Universidade para Todos (ProUni), e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Fonte: Agência Brasil