A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) foi palco, nesta quarta-feira (16), de um intenso debate sobre segurança nas escolas públicas, motivado por recentes episódios de esfaqueamento envolvendo estudantes. A audiência pública, convocada pela deputada Paula Belmonte (Cidadania), buscou discutir alternativas de curto e longo prazo para conter a entrada de armas brancas nas instituições de ensino.
O encontro aconteceu após dois casos que chocaram a comunidade escolar: um no Centro de Ensino Médio 01 do Gama, no dia 31 de março, e outro no Centro Educacional 02 de Brazlândia, colégio cívico-militar, em 8 de abril.
Parlamentares e especialistas propõem medidas emergenciais
A audiência reuniu gestores, representantes da segurança pública, estudantes e especialistas em educação, que apresentaram sugestões como revista em mochilas, uso de detectores de metais, catracas com reconhecimento facial e ampliação do efetivo do Batalhão de Policiamento Escolar.
“Não quero transformar a escola em um presídio, mas quero garantir segurança para mim e meus alunos”, afirmou, emocionada, Silvia Maria Cavalcante, coordenadora do Centro Educacional 01 de São José, escola que sofreu um ataque em março de 2024.
A coordenadora foi aplaudida de pé após relatar o momento em que conteve o agressor com um cabo de rodo, evitando uma tragédia ainda maior. O episódio, motivado por bullying, deixou cinco feridos, mas nenhuma vítima fatal.
Ana Beatriz Goldstein, da Secretaria de Educação do DF, reforçou a necessidade de controle: “A escola tem que ser um espaço seguro. Nossas mochilas devem conter livros e sonhos, não armas brancas”.
Segurança imediata e ações estruturais
O debate na Câmara Legislativa também evidenciou a necessidade de combinar medidas emergenciais com políticas educativas de médio e longo prazo. “Precisamos agir agora para proteger vidas, mas também construir uma cultura de paz”, defendeu Flávio Campos, diretor do Centro de Línguas do Gama.
O secretário executivo de segurança pública, Alexandre Patury, citou o Carnaval de Brasília como exemplo de sucesso ao unir campanhas educativas com controle rígido: “Foram apreendidas 400 facas e tesouras. Nenhuma ocorrência grave foi registrada”, destacou, defendendo a adoção de revistas nas escolas.
Representatividade e divergências
O estudante Guilherme Bezerra, representante do Centro Educacional 01 do Riacho Fundo II, apoiou o reforço da segurança: “Precisamos de estratégias eficazes que garantam a integridade física de todos”.
Por outro lado, o diretor do CEM 01 do Gama, Macário Neto, criticou a ênfase nos mecanismos de controle físico. Para ele, a origem da violência está fora dos muros da escola: “Tráfico, desestruturação familiar e bullying são os verdadeiros vilões. O Batalhão Escolar precisa de mais efetivo”, argumentou.
A comandante do batalhão, major Daniella Sellani, confirmou que novos policiais estão em formação e destacou que o uso da tecnologia deve complementar a atuação da PM: “Mais de 100 objetos cortantes já foram apreendidos nas escolas em 2024”.
Ouvir a comunidade e evitar discriminações
A audiência também trouxe à tona a importância da escuta democrática. “Cada escola tem sua realidade. Quantos alunos foram ouvidos? Onde estão os psicólogos e assistentes sociais?”, questionou a mestranda Caroline Nogueira.
A deputada Paula Belmonte, ao encerrar a reunião, reconheceu que qualquer proposta deve respeitar a diversidade das escolas e não pode reforçar desigualdades: “Precisamos de regras justas, que não discriminem. A autoestima dos alunos da rede pública é fundamental”, declarou. Ela se comprometeu a realizar novas audiências dentro das próprias escolas, com escuta ativa da comunidade escolar.