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Bolsonaro troca reforma ministerial por gambiarras

Não é que Jair Bolsonaro acredite na lorota segundo a qual seu ministério, por “eficiente”, dispensa reforma. A questão é que o presidente optou por acochambrar. Ultimamente, quando uma peça do primeiro escalão dá defeito, ele instala uma gambiarra. Faz isso especialmente nos casos em que o conserto, para ser definitivo, exigiria o manuseio de um instrumento indisponível na sua caixa de ferramentas: a autocrítica.

Na área do meio ambiente, por exemplo, Bolsonaro só agiu quando o ambiente inteiro já estava conspurcado pelo escárnio governamental. Os maiores fundos de investimento do planeta avisaram: mantido o descaso com a proteção da floresta amazônica, não haveria como investir no Brasil. O ministro Paulo Guedes sentiu o hálito da contrariedade no Fórum Econômico Mundial de Davos, há uma semana.

Em resposta, Bolsonaro anunciou a criação do Conselho da Amazônia e da Força Nacional Ambiental. As novidades serão coordenadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Ainda não há clareza quanto à forma, o conteúdo e os custos. Numa evidência de que a iniciativa foi esboçada em cima do joelho, o plano de voo virá depois da decolagem.

Com essa gambiarra ambiental, em vez de substituir o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) Bolsonaro desligou-o momentaneamente da tomada. Uma das primeiras iniciativas de Mourão será a de tentar desobstruir o duto por onde escorriam as verbas milionárias que Noruega e Alemanha aportavam no Fundo Amazônia antes do transe antiambiental que se instalou em Brasília.01

Na Casa Civil, supostamente comandada por Onyx Lorenzoni, a tática da gambiarra foi levada às fronteiras do paroxismo. Ali, Bolsonaro comportou-se como uma espécie de arquiteto desmazelado —do tipo que, ao ser alertado para os problemas do projeto de uma casa, diz algo assim: “Relaxa, depois a gente bota umas plantas.”

Insatisfeito com o desempenho de Onyx, Bolsonaro retirou da Casa Civil o pilar da coordenação política, transferido para a Secretaria de Governo, e a viga do controle jurídico dos atos presidenciais, repassado à Secretaria-Geral da Presidência. A confiança do presidente no seu aliado de primeira hora trincou.

Para esconder a fenda, Bolsonaro mandara pendurar no organograma da pasta de Onyx o PPI, Programa de Parceria de Investimentos. Agora, atendendo a uma reivindicação de Paulo Guedes, determinou que a samambaia do PPI seja transferida para a estufa da Economia. Restabelecida a lógica, a Casa Civil tornou-se uma superestrutura pendurada no ar.

Onyx desfrutava de férias nos Estados Unidos. Estava no Magic Kingdom, o mundo encantado de Disney World. Teve de voltar às pressas. Mal aterrissou no inferno brasiliense, foi logo avisando que não cogita deixar o governo. Ou seja: não podendo elevar a própria estatura, Onyx decidiu rebaixar o pé-direito do seu gabinete.

Neste sábado, Onyx terá uma conversa a sós com Bolsonaro. Nada mudou, disse o ministro a correligionários ao longo da sexta-feira, sem se dar conta de que, no seu caso, nada é uma palavra que ultrapassa tudo. No momento, a Casa Civil é uma espécie de elefante que Bolsonaro eletrocutou sem calcular a dificuldade que teria para remover o cadáver.

Propagou-se no Planalto a informação de que, em nova gambiarra canhestra, Bolsonaro acomodaria a inépcia de Onyx na pasta da Educação, hoje preenchida pela incompetência de Abraham Weintraub.

Na noite passada, horas depois de interromper uma entrevista para não ter que falar sobre o futuro de Onyx, o presidente postou em suas redes sociais uma foto na qual aparece ao lado de Weintraub, seu auxiliar mais “imprecionante”. Na legenda, apenas um enigmático “boa noite a todos”.

Redação
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