Agosto e setembro são meses amplamente recognized pelos habitantes de Brasília como um par de períodos caracterizados por uma prolongada temporada de seca, baixa umidade atmosférica e temperaturas escaldantes. Durante esses meses, é comum ocorrer sangramento nasal, rachaduras nos lábios, ressecamento da pele e dos olhos, além de doenças respiratórias tornarem-se a principal causa de consultas médicas.
A partir do último final de semana, a região administrativa do Distrito Federal encontra-se em situação de emergência, também designada como alerta vermelho, devido à significativa redução nos níveis de umidade relativa do ar, que atingiram valores inferiores a 12%. Esse comunicado foi emitido pela Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil, entidade vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP).
Existem três categorias de alerta à disposição. O primeiro engloba situações em que a umidade oscila entre 21% e 30%, sendo denominado de estado de atenção, identificado pela cor amarela. Se a umidade cai ainda mais, entre 12% e 20%, ingressamos no estado de alerta, representado pela cor laranja. O estágio de emergência ou alerta vermelho é ativado quando a umidade se posiciona abaixo de 12%, conforme explica o coordenador de Gerenciamento de Riscos de Desastres da Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil, coronel Pedro Anibal.
Segundo o coordenador, nos dias recentes, o Distrito Federal registrou o índice mais baixo na área do Gama, onde a umidade relativa do ar atingiu 10%. “Analisamos as diversas estações meteorológicas e selecionamos o valor mínimo para determinar os alertas, os quais são transmitidos por meio de mensagens SMS aos celulares registrados”, compartilha. No momento, a Defesa Civil dispõe de 194.235 números na base de dados para a disseminação dos alertas. Em situações mais críticas, as notificações também são divulgadas por intermédio do Google Alerta, WhatsApp e Telegram.
Paralelamente aos estados de alerta, o órgão fornece orientações preventivas com o intuito de atenuar as repercussões do período climático. “Já comunicamos medidas rotineiras, tais como evitar atividades ao ar livre entre 11h e 15h, manter a umidade do ambiente por meio de umidificadores e panos umedecidos, limitar a exposição solar prolongada e manter-se bem hidratado”, conclui Anibal.
Conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a persistência de uma massa de ar seco sobre a região central do país está resultando na continuação do baixo índice de umidade e do calor. “Esta massa contribui para a diminuição da umidade do ar e para as altas temperaturas. Durante as primeiras horas da manhã, observamos a umidade máxima de 70%, contudo, esse valor irá oscilar entre 15% e 10%”, adianta o meteorologista Heráclio Alves. Além do Distrito Federal, outras 10 unidades federativas emitiram alertas nas últimas horas.
De acordo com o especialista, os meses de agosto e setembro na região do Distrito Federal são caracterizados pelas mais baixas taxas de umidade, constituindo períodos mais secos do que, por exemplo, julho, quando ainda há uma média superior de precipitação. “Devido à sequência de diversos dias de clima mais seco e calor intenso, a percepção é de que a situação está mais grave. No entanto, isso está dentro do padrão esperado para esta época”, avalia.
Conforme a Secretaria de Educação (SEE), até o momento, não há recomendação para suspender aulas ou modificar os horários na rede pública de ensino. A pasta tem reforçado as medidas e diretrizes para assegurar o bem-estar dos alunos e dos funcionários.
Entre as orientações da secretaria estão a manutenção de bebedouros em boas condições de funcionamento (higiene e qualidade da água); instruir os estudantes a trazerem suas próprias garrafinhas de água e não compartilhá-las com colegas, a fim de evitar a propagação de gripes e resfriados; incentivar o consumo de água entre os estudantes; maximizar a ventilação nas salas de aula; e manter um alto nível de higiene nas instalações escolares, como pátios, banheiros e salas de aula.
Com a ausência de perspectiva de uma pausa de longo prazo, a população necessita intensificar os cuidados com a saúde, especialmente para evitar o aumento das enfermidades respiratórias que se manifestam com maior frequência nesse período. Entre as principais afecções deste ciclo temporal incluem-se rinite, sinusite e resfriado, juntamente com o agravamento dos quadros de indivíduos que sofrem de asma e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica).
O médico Rafael Melo de Deus, que detém expertise como ponto de referência técnica distrital (RTD) em Pneumologia pela Secretaria de Saúde, esclarece que a baixa umidade relativa do ar resulta na redução da quantidade de água na atmosfera, comprometendo as vias respiratórias que dependem de um equilíbrio de umidade, enfraquecendo sua capacidade de defesa contra vírus e bactérias. “A simples aridez do ar conduz à irritação e inflamação das membranas mucosas do sistema respiratório. Assim, pacientes já portadores de enfermidades de base tendem a sentir um agravamento durante esse período”, declara.
Conforme o pneumologista, a rede pública de saúde no Distrito Federal está se organizando ao aumentar a disponibilidade de médicos durante os plantões, com o intuito de aprimorar o atendimento a pacientes com problemas respiratórios nas unidades ambulatoriais. A cidade possui diversos hospitais de referência nesse campo, como o Hospital de Base, o Hospital Regional da Asa Norte, o Hospital Regional do Gama e o Hospital Regional de Sobradinho.
“O tratamento dessas infecções respiratórias varia de acordo com o paciente. No entanto, na maioria das vezes, trata-se apenas de um quadro de resfriado, rinite ou um episódio agudo de asma. Sempre enfatizamos aos pacientes a importância de consultar um médico para obter um tratamento mais adequado, além de instruir sobre o aumento do uso de soro fisiológico e a manutenção de ambientes bem umidificados”, reforça o pneumologista.
Tamilly Lira, assistente administrativa de 29 anos, juntamente com seu filho Enzo Lira, de 8 anos, enfrentam frequentemente problemas de saúde durante o período de seca em Brasília. Ambos costumam lidar com condições respiratórias, como rinite e bronquite. “Nesses meses do ano, precisamos redobrar os cuidados. Eu até comprei um umidificador. Além disso, costumamos usar toalhas umedecidas e um balde de água no quarto para melhorar a qualidade do sono. Evitamos exercícios ao ar livre e realizamos lavagens nasais e hidratação adequada, mas mesmo assim há momentos em que adoecemos”, compartilha.
Tamilly lembra que, desde que se mudou de João Pessoa (PB) para Brasília, começou a lidar com sintomas respiratórios. “Eu sou de uma cidade litorânea. Quando me mudei em 2011, percebi muitas diferenças em relação à saúde. Tive tosse seca, dificuldades respiratórias e até sangramento nasal”, relata.