De acordo com o Departamento de Informação e Informática do SUS (Datasus) vinculado ao Ministério da Saúde, o Distrito Federal registra a taxa mais baixa de mortalidade por infarto agudo do miocárdio no Brasil. No ano de 2022, apenas 4,74% dos pacientes hospitalizados após sofrerem um ataque cardíaco faleceram na região. Comparativamente, a média nacional de óbitos por essa condição é de 9%.
O índice é reflexo da eficaz colaboração entre os elementos da rede da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), tanto nos estabelecimentos públicos quanto nas unidades contratadas, como o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF). Esta estrutura não apenas promove uma resposta rápida no atendimento, como também fortalece a sinergia.
Os diversos hospitais regionais e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) constituem uma malha interconectada, na qual as equipes de emergência utilizam um aplicativo para se comunicarem diretamente com os plantões de cardiologia no Hospital de Base e no ICTDF. Iniciado em 2019, o projeto “Sprint” tem sido alicerçado por especialistas no campo, que auxiliam nos diagnósticos – inclusive fornecendo orientações para a execução de trombólise durante o primeiro atendimento. Esses especialistas também indicam procedimentos e se preparam para receber o paciente caso uma transferência seja necessária, a qual é realizada através de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
A história do artesão José Carlos Nogueira é um exemplo dessa eficaz colaboração. Com 72 anos de idade, ele foi admitido no Hospital Regional de Sobradinho (HRS) no início de junho, inicialmente devido a dores abdominais que ele acreditava serem causadas por intolerância à lactose. No entanto, os profissionais médicos identificaram que era, na verdade, um quadro de infarto. Após estabilizá-lo, conduziram exames preparatórios e encaminharam-no para cirurgias de ponte de safena e mamária no ICTDF.
A alta médica tão esperada aconteceu no início de agosto. “Vai chegar um dia em que todos nós iremos partir, mas continuar vivo é o que importa, especialmente quando se tem planos e netos para cuidar”, declara Nogueira. Mesmo enfrentando desconfortos residuais, seu otimismo e profundo sentimento de gratidão são partes integrantes de sua recuperação. “Fui tratado de forma excepcional, o atendimento foi excelente. Estou me recuperando muito bem”, avalia ele. Durante os dois meses desde sua admissão no HRS até sua alta no ICTDF, José também precisou superar uma infecção respiratória antes de ser liberado para o procedimento cardíaco. A próxima etapa compreende o acompanhamento, com consultas regulares.
Integração e avanço tecnológico são elementos centrais nesse processo. “Após o tratamento inicial, o paciente passa para a próxima etapa aqui”, explica o cardiologista e coordenador da Unidade de Dor Torácica do ICTDF, Camilo Chaves Júnior. No ICTDF, é possível realizar intervenções altamente complexas, como a angioplastia.
Apenas em 2023, já foram realizadas quase 400 cirurgias desse tipo no local, incluindo tanto casos eletivos quanto emergenciais. O instituto dispõe de tecnologias de última geração, como o balão intra-aórtico, utilizado em pacientes em estado grave, e a hemodiálise prisma, necessária para tratar insuficiência renal em situações de baixa pressão arterial.
Dispositivo de Respiração Avançada
O avanço tecnológico mais notável é representado pela membrana de oxigenação extracorpórea (ECMO, na sigla em inglês). Em termos práticos, essa máquina tem a capacidade de operar como um pulmão e um coração artificiais, destinados a pacientes cujos órgãos vitais estão comprometidos. O cardiologista esclarece que esse sistema atua como uma passagem temporária para tratamentos definitivos, que podem variar desde a recuperação do funcionamento cardíaco até a realização de um transplante.
A unidade operacional no ICTDF é a única do tipo destinada aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Distrito Federal. A tecnologia em questão não está originalmente listada entre os serviços cobertos pelo SUS, no entanto, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) incluiu-a no contrato com o instituto como parte do esforço de aprimorar o atendimento à população local.
O contrato, avaliado em R$ 186 milhões, foi firmado com o ICTDF no final de 2022 e possui um prazo inicial de dois anos, com a possibilidade de prorrogação por mais três anos. Graças a esse contrato, mais de 7.500 consultas e quase 14 mil exames já foram realizados, tanto em situações de emergência quanto para pacientes encaminhados por meio da Central de Regulação.
De acordo com a especialista de referência técnica distrital (RTD) em cardiologia da SES-DF, Rosana Costa Oliveira, a implementação deste contrato teve como resultado uma agilização dos atendimentos e uma notável redução nos tempos de espera por procedimentos cirúrgicos cardíacos. Rosana ressalta que a média atual é de aproximadamente 80 cirurgias por mês, com 20 realizadas no Hospital de Base e 60 no ICTDF.
O contrato estabelecido com a Secretaria de Saúde também abrange a prestação de serviços em cardiologia pediátrica, incluindo procedimentos cirúrgicos de elevada complexidade – um número que ultrapassa a marca de cem apenas no decorrer de 2023. A Secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, destaca que a contínua colaboração tem como objetivo fornecer à população do Distrito Federal, independentemente da faixa etária, um fluxo cada vez mais eficaz, com profissionais qualificados e tratamentos de vanguarda.