Publicado no Diário Oficial do DF, o extrato do acordo de cooperação técnica entre a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF) vai ajudar nas ações do programa Alevinar, de produção e manejo de tilápias, criado pela Seagri com apoio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
A UnB vai apoiar projetos de repovoamento de espécies nativas de peixes nas bacias hidrográficas do cerrado, além de fazer parte do Comitê do Alevinar, um programa que profissionaliza a piscicultura e fortalece a alimentação como uma fonte de renda para pequenos e médios produtores.
Atualmente, mais de um milhão (1.003.250) de alevinos foram distribuídos nos últimos cinco anos para 543 produtores do DF. São consumidos cerca de 60 mil toneladas de pescado no Distrito Federal e a produção interna é de cerca de 2.000 toneladas (2.050 toneladas em 2022).
Além disso, praticamente toda essa produção é comercializada pelos produtores de forma informal, ou seja, sem passar por uma unidade de processamento com inspeção sanitária. De acordo com o Gerente de Produção Animal da Seagri, Ângelo Procópio Costa, o Alevinar também irá solucionar essa informalidade por meio do cooperativismo entre os produtores.
A ideia de cooperação entre as instituições é que esse trabalho de melhoramento genético e seleção dos peixes contribua para que exista um peixe adaptado às condições locais, beneficiando cada vez mais os piscicultores do Distrito Federal.
“É uma política pública que incentiva a verticalização da produção, além de proporcionar capacitação dos produtores de alevinagem na área rural do DF”, elucida Ângelo.
Mudanças práticas
Na cooperação será feito o levantamento da ictiofauna nas bacias hidrográficas, que é o conjunto das espécies de peixes que vivem em uma determinada região biogeográfica. Após a licença para captura de matrizes reprodutoras, será feita a condução de projetos científicos na área de piscicultura.
O acordo abrange programas de estágio dos discentes da UnB, além de residência e pós-graduação na área de aquicultura, além de eventos em conjunto, tanto na UnB quanto na Secretaria de Agricultura. As equipes científicas farão um levantamento das estruturas na UnB para a realização e produção dos projetos de pesquisa e realização de experimentos científicos.
“Um dos objetivos do programa é que a Granja do Ipê não seja fornecedora, mas uma estação de produtores de alevinagem”
Ângelo Procópio Costa, gerente de produção da Seagri
“Um dos objetivos do programa é que a Granja do Ipê não seja fornecedora, mas uma estação de produtores de alevinagem com melhoramento genético repassada para pequenos agricultores familiares”, destaca o gerente da Seagri.
A cooperação visa ações a longo prazo e deve funcionar até dezembro de 2026. Atualmente está na fase de levantamento de critérios para selecionar os produtores de alevinos que serão contemplados pelo projeto.
Cruzamento genético
A produção de alevinos de espécies nativas de peixes para repovoamento das bacias hidrográficas, assim como a produção de material genético, peixes reprodutores e matrizes para distribuição pelo programa, são realizadas no Centro de Tecnologia em Aquicultura da Granja Modelo do Ipê da Seagri.
Existe, por exemplo, uma linhagem de tilápias chamada Gift, que tem a vantagem de conversão alimentar e rendimento de carcaça, além de ser um peixe com uma resistência maior ao frio. Ele vem, com famílias, para a Granja Modelo do Ipê da Seagri e é feito um cruzamento para formar uma genética adaptada ao DF.
A intenção do acordo é colocar a UnB como instituição de pesquisa, visto que a captura de peixes é limitada ao formato de pesquisa. Toda a reprodução de peixes nativos é feita mediante autorização dos órgãos ambientais e o Instituto Brasília Ambiental também faz parte do comitê técnico do projeto Alevinar.
Thiago Dias Trombeta é engenheiro de pesca e professor da Universidade de Brasília, na Faculdade de Agricultura e Veterinária. Doutor em Aquicultura, ele comenta que é a primeira vez que a UnB atua na parte de piscicultura com um órgão do GDF.
“O DF é uma região que tem um grande consumo de pescado, vem de todo o Brasil pra cá. Temos muito potencial para produzir aqui na região e fortalecer a produtividade local”, ressalta o acadêmico.
Segundo Thiago, a Universidade de Brasília é formadora de uma mão de obra altamente qualificada e capacitada para atuar no acordo, utilizando o tripé da educação, que envolve ensino, pesquisa e extensão.
“Podemos envolver os alunos no projeto Alevinar e acrescentar na formação deles, com pesquisas focadas no que o setor precisa, com o que os produtores têm. É uma parceria pública para maximizar esforços e ter esse intercâmbio com a realidade do campo”, pontua.
Fonte: Agência Brasília