Separar o lixo seco — aquele que pode ser reciclado — do orgânico é uma tarefa simples do dia a dia. Tão simples que muitos não percebem o impacto negativo de não fazê-la. A falta de separação afeta não só o meio ambiente, mas também as pessoas que trabalham na coleta de resíduos. O lixo reciclável é coletado pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e por entidades contratadas, e 100% do material é enviado para triagem. Atualmente, existem 42 contratos com cooperativas e associações de catadores, sendo 22 para coleta seletiva e 20 para separação de materiais. De 2019 até o início deste ano, o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio do SLU, investiu R$ 215 milhões nesses contratos.
Tainara Oliveira Silva, gestora da cooperativa Recicla Mais Brasil no Paranoá, alerta que o descarte de material orgânico junto com o seco pode danificar o maquinário da cooperativa e reduzir a quantidade de lixo que poderia ser reciclado. “Resíduos orgânicos estragam nossa esteira e outros equipamentos, pois eles não foram feitos para esse tipo de material. A separação inadequada também dificulta o trabalho dos coletores, e materiais recicláveis acabam indo para o aterro se estiverem misturados com orgânicos, ao invés de serem reciclados”, explica. Ela destaca que, das 100 toneladas de resíduos que a cooperativa recebe mensalmente, cerca de 20% se tornam rejeitos devido à separação incorreta. Assim, itens recicláveis, como garrafas PET, podem acabar descartados se estiverem misturados com restos de comida, por exemplo.
Riscos à saúde dos catadores
Além do impacto ambiental, a separação incorreta dos resíduos representa um risco à saúde dos catadores, que ficam expostos a diversos perigos. Tainara lembra de casos de agulhas encontradas entre o lixo seco e de um animal morto descartado incorretamente, que resultou em um surto de pulgas na cooperativa. “Isso coloca muitas pessoas em risco, pois expõe os catadores a resíduos que podem estar contaminados. O trabalho já é arriscado, mas tentamos ao máximo diminuir os perigos”, destaca.
Cícera Mayara Jesus, uma das catadoras da cooperativa, já teve que levar três pontos na mão após um corte causado por vidro descartado de forma inadequada. “A separação correta é importante porque, se os vidros vêm soltos, podemos nos machucar. Também facilita muito o nosso trabalho, tornando a separação mais rápida”, afirma. A colega Rosinete Silva reforça o apelo: “Muitas vezes, o material vem todo misturado, e é difícil separar, mesmo com luvas, máscara e óculos. Quando está tudo separado direitinho, é bem melhor”.
Descarte correto
Para o descarte correto, o lixo convencional deve ser separado entre recicláveis (como plástico, isopor, papel, papelão, metal, embalagens longa vida, etc.) e não recicláveis (restos de comida, filtro de café, lixo de banheiro, pequenas podas, etc.). Existem dias específicos para a coleta de cada tipo de lixo, e o calendário pode ser consultado no site do SLU ou pelo aplicativo SLU Coleta DF. Segundo o SLU, não é necessário lavar as embalagens, como as de refrigerante ou leite longa vida, antes do descarte, pois no processo de reciclagem os resíduos passam por trituração e higienização. Contudo, é importante ter cuidado ao descartar vidros, para evitar acidentes como o de Cícera: os cacos devem ser acondicionados em caixas de papelão ou embalagens de refrigerante, devidamente identificados. Resíduos de construção civil e pequenas reformas (até 1 m³), bem como grandes volumes (sofás, roupeiros, etc.) e podas, devem ser direcionados para os Pontos de Entrega Voluntários (PEV). No site do SLU, é possível encontrar a localização desses pontos e dos Papa Recicláveis, que auxiliam na correta destinação dos materiais recicláveis.
“Separar os resíduos na origem traz uma cadeia de benefícios”, explica Francisco Mendes, chefe da unidade de Sustentabilidade e Mobilização Social do SLU. “Do ponto de vista ambiental, contribui significativamente para a redução da exploração dos recursos naturais. Também promove a inclusão socioprodutiva dos catadores em todo o país, gerando renda com o trabalho de reciclagem.” Francisco também ressalta os impactos positivos na saúde pública: a separação e o descarte corretos evitam que resíduos entupam bueiros, o que poderia causar alagamentos, além de prevenir a proliferação de vetores nocivos à saúde, como escorpiões, mosquitos e roedores.