Na área central, entre a agitada circulação de pessoas na Rodoviária e o centro do poder nos ministérios, está um dos locais mais icônicos da cultura: o Teatro Nacional Claudio Santoro. O espaço tem uma história que se mistura com a da cidade. Com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, o equipamento cultural começou a ser construído três meses após a inauguração da nova capital. Mas foi apenas no aniversário de 1981 da cidade que foi entregue de forma completa à população – até então, ele funcionava de forma parcial.
No ano passado um novo capítulo foi escrito com a reinauguração da Sala Martins Pena encerrando um ciclo de quase 11 anos de interdição do teatro. Foram investidos R$ 70 milhões pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para reformar o espaço, em uma obra que representou mais do que a modernização e a adequação às exigências técnicas de segurança, acessibilidade e prevenção contra incêndios. Ela devolveu à capital um ambiente de democratização da cultura, onde arte e público se encontram.
O servidor público Guaraci Paes, 56 anos, lembra que frequentava o Teatro Nacional mensalmente em sua juventude. “Perdi as contas de quantas vezes eu fui. Assisti a vários balés internacionais, todas as óperas clássicas e levava meus sobrinhos para os eventos de música clássica. Era um local sagrado para mim porque evocava esse sentimento de pertencimento com a cultura e a arquitetura de Brasília”, comenta.
Quando o local fechou, Guaraci sentiu revolta. “Considerei um crime. Imagina quantas crianças se tornaram adultas sem ter acesso a esse aparelho cultural?”, se questionava. Já a reabertura trouxe uma felicidade imensurável: “É uma alegria tão grande que fico sem palavras”.

Alegria também foi como definiu o maestro Cláudio Cohen sobre o retorno ao espaço. “É uma sensação de pertencimento a um espaço mágico, da arte, da criatividade e da expressão”, acrescenta o regente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, que, após anos de peregrinação pelos equipamentos culturais da cidade, finalmente retornou ao espaço, onde agora faz concertos gratuitos todas as quintas, às 20h.
Para Cohen, a reabertura marca mais que um reencontro profissional – é um retorno às origens. Ele esteve presente no concerto inaugural da orquestra, em 1980, como jovem violinista de apenas 16 anos. “É toda uma vivência e uma história que tenho com esse aparelho cultural. Olhando para o teatro visualizo todas essas décadas que vivi lá dentro e isso me traz uma energia muito positiva e um sentimento de alegria e tranquilidade”, complementa.
Se o maestro revive memórias, a pequena Cecília Lisboa, de 7 anos, começa a escrever as suas. Quando nasceu, o teatro já estava interditado. Este ano, ao lado da mãe, a dentista Cinthia Lisboa, ela pôde entrar pela primeira vez no espaço para assistir a um concerto da orquestra.
“Nós nunca havíamos ido ao Teatro Nacional antes. Acredito que com a reabertura a população pode novamente assistir gratuitamente a espetáculos em um espaço confortável e de fácil acesso. Além disso, a possibilidade de levar crianças torna a experiência ainda melhor, tornando o teatro um local acolhedor para toda família”, avalia Cinthia.
A emoção ficou estampada no rosto da menina. Encantada com a Sala Martins Pena, ela acompanhou o concerto do início ao fim, sem desviar os olhos do palco. “Cecília acompanhou o concerto do começo ao fim, super atenta, e no final disse, toda empolgada, que tinha sido incrível”, conta a mãe.
Patrimônio restaurado
A obra de restauração do Teatro Nacional Claudio Santoro era aguardada há muitos anos. Antes mesmo da interdição do complexo cultural em 2014, o equipamento público já demonstrava a necessidade de intervenções. A reforma só veio oito anos depois do fechamento, quando este Governo do Distrito Federal (GDF) assumiu o desafio de restaurar um dos maiores complexos culturais do país.
O processo de restauração contou com a participação de dois órgãos: a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que é responsável pela gestão do equipamento público, e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que assumiu a responsabilidade pela execução e fiscalização da obra junto à empresa vencedora da licitação.
Na primeira fase, foram realizadas adequações às normas atuais, com novas saídas de emergência, construção de reservatório para combate a incêndios, troca de toda a rede elétrica e hidráulica, além da substituição de materiais inflamáveis. A Sala Martins Pena e seu foyer foram totalmente restaurados, dando início à devolução do teatro à população.
A segunda etapa da obra já está garantida e permitirá a restauração de todo o corpo do Teatro Nacional Claudio Santoro, incluindo o foyer da Villa-Lobos, as salas Villa-Lobos e Alberto Nepomuceno e o Espaço Dercy Gonçalves.
Fonte: Agência Brasília