A reabertura da Sala Martins Pena é considerada, para os integrantes da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), como um verdadeiro retorno ao lar. Esse espaço é o primeiro a ser restaurado dentro do Teatro Nacional, fruto de uma iniciativa de restauração conduzida pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Desde dezembro de 2013, quando a orquestra realizou sua última apresentação no local — com a execução da Sinfonia nº 9 de Beethoven —, o grupo não retornou às salas do teatro, interditadas devido ao descumprimento de normas de segurança, combate a incêndio e acessibilidade.
Para Lilian Raiol, spalla da orquestra, o momento é de emoção e expectativa. “Foi uma tristeza ter que sair da sala”, relembra. Com 19 anos de carreira na OSTNCS, Lilian conta que sua decisão de seguir a carreira de musicista surgiu justamente ao pisar na Sala Villa-Lobos. “Escolhi fazer música e tocar em orquestra quando fiz o festival da Escola de Música no curso de verão. Entrei na Sala Villa-Lobos e falei: ‘É aqui que eu quero trabalhar e passar o resto da minha vida’”, destaca. Para ela, retornar às dependências do Teatro Nacional simboliza a realização de um duplo sonho.
O sentimento é compartilhado por Larissa Mattos, violoncelista que tomou posse na orquestra em julho de 2018. Desde então, ela nunca teve a oportunidade de tocar no teatro. “Fiz o concurso com a expectativa de ter um teatro para tocar. Quando cheguei, infelizmente, ainda não tinha reaberto”, conta Larissa, que agora vive a esperança de finalmente concretizar seu objetivo.
A reabertura também marca um momento especial na história da OSTNCS, que completou 45 anos de existência em 2024. Fundada em 6 de março de 1979 pelo maestro Claudio Santoro, a orquestra é um dos maiores símbolos da música erudita no Brasil e no mundo. Para o maestro Cláudio Cohen, atual regente do grupo, a reabertura é um marco. “Isso para nós é um presente, uma alegria que vem no momento certo”, afirmou, agradecendo ao GDF pelo empenho em devolver à população do Distrito Federal um dos mais importantes patrimônios culturais da cidade.
Desenvolvimento Musical e Impacto na Qualidade do Trabalho
A volta ao Teatro Nacional traz impactos significativos para o desenvolvimento musical da orquestra. Francisco Orru, membro da OSTNCS há 15 anos, destaca que a ausência do espaço adequado foi uma perda imensurável. “Toda a nossa condição de trabalho estava lá. Para o nosso desenvolvimento musical, foi um grande prejuízo”, afirma.
Para o maestro Cláudio Cohen, a volta é comparável à de um time de futebol que retorna ao seu campo principal. “Embora outras salas tenham nos recebido com muito carinho, não são espaços adequados para o trabalho de uma orquestra, que precisa de uma condição acústica adequada”, ressalta. Ele lembra que as condições de som e o ambiente apropriado são essenciais para a qualidade do trabalho e para a audição do público, elementos cruciais para a música erudita.
Estrutura e Instalações Modernizadas
Com a reabertura da Sala Martins Pena, a OSTNCS contará com instalações modernizadas. O espaço terá uma sala de apoio climatizada com banheiros, além de um local reservado para guardar os instrumentos. Também foi destinada à orquestra uma área no foyer, que será usada para apresentações de trios de cordas. Para o secretário de Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec-DF), Felipe Ramón, a orquestra é o “coração do Teatro Nacional”. “Ela precisa ser tratada com carinho. São espaços pensados especialmente para eles”, afirmou.
Reforma do Teatro Nacional e Investimentos
A restauração do Teatro Nacional começou em dezembro de 2022, liderada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e pela Secec-DF. O GDF destinou R$ 70 milhões para a primeira etapa das obras, que inclui a construção do sistema de combate a incêndio, a implementação de acessibilidade e o restauro do foyer e da Sala Martins Pena.
Para as próximas fases, estão previstos investimentos de R$ 320 milhões. As obras futuras incluem a revitalização da Sala Villa-Lobos, do Espaço Dercy Gonçalves, da Sala Alberto Nepomuceno e do anexo. Enquanto isso, a OSTNCS enfrentou uma década de itinerância, passando por locais como o Teatro Pedro Calmon, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o Santuário Dom Bosco, o Teatro dos Bancários, o Cine Brasília e o Museu Nacional da República, até se estabelecer no Teatro Plínio Marcos, onde está desde 2022.
A reabertura da Sala Martins Pena simboliza o fim dessa longa jornada e o reencontro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional com seu verdadeiro lar. Mais do que um retorno físico, é a retomada de um legado histórico e musical que continuará a encantar gerações.